Olá, leitores e entusiastas da tireoide! Hoje vamos falar sobre um hormônio que ganhou fama na internet: o T3. Entre promessas de “coquetéis milagrosos” e terapias que juram revolucionar a saúde com pequenas doses, é preciso separar mito de ciência.
T4: o padrão-ouro
Para a grande maioria dos pacientes com hipotireoidismo, a levotiroxina (T4) é o tratamento de escolha. O corpo a converte naturalmente em T3, o hormônio ativo, na quantidade e no local necessários. É um tratamento simples, seguro, eficaz e respaldado por décadas de evidências.
O fascínio pelo T3
Nos últimos anos, surgiu a ideia de que apenas T4 não seria suficiente e que o T3 adicional traria mais energia, emagrecimento ou melhora capilar. Contudo, os estudos não confirmam esses benefícios.
Por que T3 isolado ou em excesso não é solução
- Proporções não fisiológicas: Fórmulas manipuladas raramente reproduzem o equilíbrio natural de T4 e T3.
- Meia-vida curta: O T3 é metabolizado rapidamente, exigindo múltiplas doses ao dia e causando flutuações hormonais.
- Ajuste difícil: Pequenas variações na dose podem levar a excesso ou falta de hormônio.
- Efeitos adversos: Uso inadequado pode causar sintomas de hipertireoidismo — palpitações, tremores, insônia, perda de peso involuntária — além de risco aumentado em idosos e pessoas com doenças cardíacas.
Riscos e evidências
Estudos sugerem que o uso descontrolado de T3 pode elevar o risco de eventos cardiovasculares e neurológicos, como insuficiência cardíaca e AVC. Esses dados ainda são limitados, mas servem como alerta: o excesso hormonal não é inofensivo.
Há espaço para o T3?
Sim, mas de forma muito restrita. Alguns pacientes, mesmo com T4 em dose adequada, permanecem sintomáticos. Nesses casos, discute-se a combinação T4+T3, sempre em proporções fisiológicas e sob supervisão médica. Ainda assim, não há consenso e faltam estudos robustos para indicar amplamente essa prática.
A mensagem final
O T3 não é o vilão, mas também não é o “hormônio mágico” que muitos vendem. O tratamento com levotiroxina (T4) continua sendo o padrão confiável. O uso de T3 pode ter lugar em situações específicas, mas sempre com cautela, individualização e acompanhamento endocrinológico.
Não se deixe levar por promessas sem base científica. A saúde hormonal exige precisão, e o melhor caminho é sempre guiado pela ciência. Converse com seu endocrinologista e siga pelo trilho seguro do conhecimento.
Fontes:
- Jonklaas J, Bianco AC, Cappola AR, et al. Thyroid. 2021;31:156.
- Ito M, Miyauchi A, Morita S, et al. Eur J Endocrinol. 2012;167:373.
- Clyde PW, Harari AE, Getka EJ, Shakir KM. JAMA. 2003;290:2952.